CINCO HORAS
CINCO HORAS Kathléen Carneiro Uma das piores noites pra mim são as que eu acordo com a mesma sensação com que dormi: tristeza. A expectativa frustrada toma conta de mim quando percebo que o repouso forçado que levaria consigo toda a tristeza que me assolava vem ainda pior. Após lágrimas incontidas que escorriam pelo meu rosto, sinto ainda mais o descontrole de sua queda. O cansaço da rotina, o peso da expectativa, a angústia de poder ter feito mais e a dor de não ter feito. Com a alma inquieta e a cabeça pensante, pra não dizer frustrada, me arrisco a abrir os olhos. Me sinto tomada pela noite e o seu peso me conforta, me sufoca. Talvez assim a dor em meu peito cesse, ainda que por alguns instantes. No costume da madrugada, oro por misericórdia, peço por alívio. O que resta? Estou só. Quando eu era criança, o escuro me assombrava. Não vou mentir e dizer que estou imune ao medo, porque se fosse qualquer outra madrugada, abrir os olhos me pareceria uma situação de risco. Ainda